27 de setembro de 2008

Anjos congadeiros (Texto de Glayson Arcanjo)


Anjo Congadeiro de Alexandre França. (Fotos: Kárita Gonzaga)

Alexandre era menino que via o congo passar, quando nem altura tinha para que seus olhos alcançassem as janelas de sua casa e pudessem observar o que acontecia do outro lado da rua. Do outro lado da rua ele avistava a igreja de Nossa Senhora do Rosário, de um azul que não se sabe bem qual era, mas que também não era a dessa cor que hoje está, e que disseram ser a primeira a cobrir as paredes de lá!

Quando era pequeno, do outro lado da rua dava para ver os congos passarem, mas antes de ver de fato, via-se ouvindo os sons,, e o que se ouvia também ressoava por toda cidade. No congo, de longe, já se escuta os apitos e tambores, as gungas e as patangomas.

Mas é preciso ver com os olhos o que se passa no congo: ver as pessoas e os instrumentos; ver os cetins, as fitas, as cores; ver que “as pessoas vão para a festa para serem vistas, para ficarem bonitas!”

Com o congo o menino trouxe as cores; rosa, rosário, azul.

Na irmandade dos homens de cor há de fato cores, cores e mais cores! E elas nos seduzem por seus contrastes e tonalidades e por seus agregados - que são os materiais utilizados artesanalmente - como brocados, lantejoulas, vidrilhos ou os de modo industrializado e que estão muito presentes hoje - como os bordados computadorizados, os óculos escuros, os cachos “canecalons”.

Congo das rendas, dos papéis de bala e bombom que brilham nas coroas. Congo contemporâneo, multimídia, interativo. Interessante e necessário conflito, afirmação e resistência de um povo cada vez mais vivo.

Alexandre trouxe consigo o anjo congadeiro, que alguém despercebido pensou até ser um santo! Mas o anjo, que marca e que fala das diversas Resistências, não entrou na igreja. Foi parar atrás dela, lá onde os congadeiros também param depois de passarem cantando, tocando e dançando na porta da Nossa Senhora do Rosário.

O lugar do anjo é lugar de descanso, de sentar no banco e arejar a cabeça, lugar para rever a família, para encontrar amigos e amores; para matar saudades e também paquerar.

Axé a todos esses anjos congadeiros!

26 de setembro de 2008

Programação do próximo encontro

Data: 27/09, Sábado de 13h30 as 17h
Local: SESC Uberlandia

  • Inicio (importante: chegar 13:30h) : Estratégias de atuação em campo, definição e separação dos grupos de desenhadores que irão acompanhar os terno de congo.
  • Intervalo
  • Oficina de imagem visual na cultura popular com o artista plástico Alexandre França

25 de setembro de 2008

Encontro de Moçambiques

Leilão com Moçambique Princesa Isabel.
Rua da Tijuca esquina com Liberdade.
dia 25 de setembro, quinta entre 19 e 22h30.

presenças confirmadas:
Moçambique Pena Branca
Grupo Baiadô
Malta Nagoa
Congadas Desenhantes (levem bloco de papel e lápis, ou outros materiais que desejarem para realizarmos os desenhos!!)
Teatro e Culturas Populares
Folclore para as Artes
Pró Docência
Neirimar do Tabinha

Tragam uma prenda e disposição para arrecadar as prendas alheias.
Colabore com uma cesta básica: a meta deste ano são 29 cestas para os ternos de congado da cidade.

22 de setembro de 2008

Obrigado Capitão!

Eu peço licença ao sol
Eu peço licença a lua
Eu peço licença as estrelas
Para chegar nessa casa sua

Marcha cantada pelo capitão José Pedro Simeão, no primeiro encontro do “Expedições Congadas Desenhantes”, 20 de setembro de 2008.

José Pedro Simeão é congadeiro que começou tarde no congo, aos sete anos de idade. Tarde porque desde pequenino já se pode ver na festa muitos meninos fardados, ainda no colo de suas mães. Tarde, porque congadeiro “começa mesmo a dançar o congo é na barriga da mãe, na gestação”.

Seu congo hoje é o Marinheiro de São Benedito; o Marinheirão, mas já foi o Catupê e o Sainha ou, ainda o são. Seu quartel, que é a residência de Mãe Selma, está aberto e quem quiser pode por lá chegar, mas Pedro não sabe dizer ao certo o nome da rua.

É! Os "popular" a gente procura por rumo e acaba achando por rumo também! Pra chegar lá talvez seja preciso procurar então por Rua do Marinheirão.

“Ah, agora já sei que o congo que tem lá na minha rua é aquele primeiro da lista!”, ouvi alguém lá no cantinho da sala. Essa lista estava pregada na parede com o nome e endereço dos 25 ternos que hoje formam a irmandade dos pretos de Uberlândia e esse congo era o São Benedito, lá da rua África número 205, mas que bem poderia se chamar rua do bendito santo.

Com o primeiro encontro do projeto Expedições Congadas Desenhantes ficamos um pouco sem o rumo; não que tenhamos ficado sem saber de nada ou deslocados do que ocorria ali, mas porque nosso capitão fala bonito, fala forte, fala certo e as coisas do congo, que também são as coisas da vida, do dia a dia, da educação, da disciplina, da brincadeira, da perseverança e da fé, foram se apresentando e chegando mais perto de cada um de nós.

Ficamos sem rumo porque sentimos a força e a energia do Congo; e aí choramos (para Ana) e também sorrimos.

Mas quartel é lugar pra firmar o braço e o pé, pegar o bastão, que é aquele elemento que dá proteção àqueles que estão no comando. Isso nos faz lembrar que o congo possui guarda, capitão, terno e possui coroa, reisado, espada, Rei e Rainha! Nos faz lembrar também de Zumbi dos Palmares que o capitão Zé Pedro muito bem enfatizou, esse negro guerreiro que construiu sua nação, e depois, guerreou e lutou para protegê-la: “luto pelo que Zumbi lutou, para proteger o meu povo”.

Pedro é também Zumbi. Obrigado Capitão!

11 de setembro de 2008

Programação dos encontros em setembro e outubro

Estamos divulgando algumas datas dos encontros de setembro, que realizaremos como preparação para a produção dos desenhos, as oficinas serão ministradas pelo Capitão do terno Marinheirão, José Pedro Simeão, pela professora e pesquisadora Renata Bittencourt Meira, e por um artista plástico convidado.

20/09 – 13h30 as 17h
Apresentação do projeto
Oficina com Capitão José Pedro Simeão e Prof. Renata Meira (SESC Uberlandia)
27/09 – 13h30 as 17h
Oficina sobre imagem visual e cultura popular – (SESC Uberlandia)
04/10 – 13h30 as 17h
Oficina Dançante com Profª. Renata Meira e Capitão José Pedro Simeão (Sala de Expressão Corporal, Bloco 3E – UFU Santa Mônica)
10, 11 e 12/10
Entrega do material (lápis, prancheta, papeis, borracha e outros) para realização dos desenhos durante os preparativos e na festa do dia 12.