7 de outubro de 2008

Salpiquemos a Diversidade!

Víamos Carybé, Oiticica, Carlinhos Ferreira, Thereza Portes, tambores pintados, colagens músicas e sonoras, mapas com fitas coloridas; salpicávamos a diversidade de pensamentos, de produções e de diferentes modos de envolvimento entre a arte e a vida, quando apontou lá dos fundos uma menina preta da pele branca (saudemos Jorge Ben!), que chegou chegando, sentou e falou também dessa diversidade. Mas Renata Meira, essa menina preta da pele branca, é capitã, e seu terno dançante quando sai às ruas olha e é olhado; dança e recebe dançadores; canta versos para outros e para ela outros tantos versos são feitos.
Nós, congadeiros desenhantes, fomos prontamente recebidos em seu quartel. Nós desenhadores - que estamos tentando aprender a olhar -, aprendemos com a capitã a brincar de trocar olhares e de sentir o próprio corpo pulsar e pisar com o pé de amassar o barro, de pisar o milho, de chocalhar as gungas. (Depois dessa, ai de quem não sentir pé vibrar, o chão tremer com os tambores do congo ou a energia das gungas e patangomas moçambiqueiras! Ai de quem não se emocionar com a puxada da viola ou do vai-e-volta do mar, que lembra-nos de casa, dos velhos amigos, da terra de origem, ou do mar e suas ondas trançadas nas coloridas fitas do marinheirão (saudade de ver seu Luizão “tocando o barco”). Essa preparação é porque vamos sair às ruas como um terno de desenhadores, de posse de pranchetas, pochetes repletas de lápis e canetas, e principalmente um olhar ávido e atento para peculiaridades, percepções, pulsões de corpos que vibram; olhar de emoção ao vermos as famílias se encontrarem nos ternos, escutarmos os versos já quase prontos, os últimos retoques nas fardas e enfim, os batidos dos tambores por toda a cidade.
Renata levou sua força, enfatizou a importância do sensorial, do olhar de cada um, do corpo em festa, das percepções e sensações pulsantes para que nós também percebêssemos a emoção posta pelos congadeiros, que surge imageticamente nos rostos de cada um, em suas feições, em seus movimentos, em sua vibração. Mas a força da capitã não é a força da dominação, pois ela sabe e vivencia que “a cultura no Brasil é carregada num contexto de dominação, violência e intolerância [e que] cabe a nós perceber, sem no entanto fortalecer esse aspecto”. E lembra que ao chegamos com as pranchetas e lápis, nós, que não queremos dominar, já estamos no lugar desse dominador, e que os congadeiros e tantos outros envolvidos na festa chegarão até nós e perguntarão “eu quero saber o que vocês nos dizem para que nós melhoremos”. .......
Há na “religião do congado” uma lógica que não é essa de que eu só posso ser católico, só posso ser umbandista, só posso ser espírita, e há outras que não cabe lógica - e que não sabemos como acontecem, mas que por algum motivo acabamos acreditando. Sei que uma vez Renata escutou assim: “eu não acredito, mas eu tenho que me defender!”. Não sei a capitã acredita ou desacredita, mas que ela se defende, disso bem eu sei! Tem alguns que não crêem, bem como há outros que acreditam nessas pessoas, na força em passar diariamente fazendo campanhas pelas cidades, andando quilômetros, rezando de casa em casa, arrecadando mantimentos em leilões que depois alimentarão milhares de outras pessoas. No congo ainda há a força da coletividade, dos ternos, da reunião do grupo e da família, do conjunto. Diante disso nós é que deveríamos perguntar a eles: queremos saber como podemos melhorar?

Um comentário:

Renata Meira disse...

Que bom multiplicar, ver frutos amadurecerem. Que bom saber que o que faço é ouvido, percebido, olhado e reconheido. Orbigada dançante pra esse povo desenhante. A gente se vê no domingo!!!